Existem livros nos quais gostaríamos de morar, diz um clichê. Mas o que fazer quando esse livro é esquisito, absurdo e um pouco hostil? O que fazer se encontramos acolhimento no assombro e no maravilhamento? O que fazer se o lugar literário com o qual nos identificamos é uma cidade como Una, perdida no tempo e no espaço, com suas plantas alucinógenas, seus incidentes insólitos e seus habitantes que, não raro, têm a envergadura dos mitos? São perguntas que nos fazemos diante desta enigmática obra de Gertrudes Raposo Sayão - ela própria um mistério. A Biblioteca de Una se esquiva de nossa compreensão já no próprio formato com que se apresenta. É um romance fix-up - em que episódios diferentes têm, em comum, o mesmo espaço e as mesmas personagens - ou uma coletânea de contos? Eis outra pergunta, entre as muitas que nos fazemos durante a leitura. Mas as respostas - e mesmo as perguntas - perdem importância diante da avassaladora imaginação de Raposo Sayão, do irresistível magnetismo de seu texto. Em Una, tudo está em seu estranho lugar. Miracula mirabilia, ritos de passagem, pesadelos, redenções. É um lugar bem diferente deste nosso, ainda que tão profundamente brasileiro. Nele vivem Mirtes, Rodrigo, Bárbara, Higino, João de Aruanda e tantas outras personagens que nunca deixam de nos ser estranhas e familiares ao mesmo tempo. Talvez essa seja uma resposta possível: Una é tão nossa quanto não é. Imaginando-a junto com sua autora, queremos nos apossar dela, reivindicá-la, mesmo sabendo que, após a última página, ela estará perdida para sempre. E por isso a leitura nos marcará tão profundamente. Oscar Nestarez Escritor, pesquisador e tradutor
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