Durante a Primeira República (1889-1930), seguidores da doutrina positivista formaram um atuante grupo na política brasileira. Desde os anos 1840, ideias do positivismo desenvolvidas pelo francês Augusto Comte - a partir dos anos 1820 - chegavam ao Brasil, ficando mais restrita aos círculos educacionais, como a escola militar e a de engenharia, do Rio de Janeiro. Em 1881, liderados por Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes, fundou-se a Igreja ou Apostolado Positivista do Brasil, no Rio de Janeiro, local de doutrinação e de conversas que resultavam em ações dos discípulos ortodoxos de Comte, na então capital. Os positivistas ortodoxos eram os seguidores da etapa religiosa da doutrina de Comte, que a desenvolveu nos anos 1850. Pretendendo educar e intervir na sociedade civil principalmente através do exemplo, os ortodoxos deixaram um legado. Após o golpe republicano, em 1889, os positivistas consideravam atrasada a sociedade brasileira se comparada à Europa ocidental, industrial e capitalista. Portanto, para a Europa, o positivismo já nascera conservador em uma ordem capitalista e burguesa, e no Brasil tinha caráter progressista, pois a sociedade nacional, então pré-capitalista, fora estruturada em séculos de escravidão e precisaria ser "modernizada". Influentes nos primeiros meses de governo republicano, os positivistas foram perdendo espaço no governo. No entanto, variados assuntos de reconhecido interesse público, como a separação entre Estado e Igreja, a secularização de cemitérios, o combate a repressão de movimentos grevistas, etc, eram debatidos e defendidos pelos positivistas. Os ortodoxos defenderam políticas como a integração entre povos latinos, com destaque aos povos do Cone Sul. Através de comissões no governo e de publicações sistemáticas, entre as quais se destacavam as circulares - livretos que se detalhava a doutrina e as ações do movimento - os ortodoxos articularam pioneira campanha pela devolução de troféus e pelo cancelamento da dívida de Guerra do Paraguai, em nome do altruísmo entre as nações irmãs e pela reparação dos erros cometidos pelo governo imperial na guerra contra a república do Paraguai. Campanha que também ganhou mais adesões no Brasil e no exterior. Os positivistas ortodoxos atuavam na defesa da plena integração das repúblicas do Prata contra um nacionalismo ufanista marcante principalmente no Brasil que seguia acirrando ódios entre as nações anos após o conflito. Entretanto, suas medidas sofreram resistências por setores sobretudo ligados ao Estado e a parte do exército brasileiro, que os acusavam de antipatriotas. Nas primeiras décadas após a chamada Guerra do Paraguai (1864-1870), conflito que opôs a Argentina liberal mitrista, o império do Brasil e o Uruguai florista contra o Paraguai, desenvolveu-se uma dominante historiografia nacional-ufanista no Brasil sobre as razões do Império, as batalhas vencidas e a atuação dos comandantes imperiais no conflito, uma série de análises que ainda tem forte influência até mesmo na academia. Os positivistas ortodoxos protagonizaram pioneira crítica sistemática ao governo imperial brasileiro e campanha pela devolução de trofeús e pelo perdão da dívida de Guerra do Paraguai cujos nuances são pouco conhecidos e divulgados pela historiografia, praticamente, ainda contra todos.
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