Este livro reúne textos escritos desde a ascensão do candidato Jair Bolsonaro até o auge da pandemia da Covid-19 e do bolsonarismo, dois males que devastaram o Brasil recente e deixaram sequelas que continuam a produzir os seus terríveis efeitos. Foram tempos de dor, de isolamento, de divisão, de fratura social e de censura. O jornalismo de opinião enfrentou um novo momento sombrio. Como ensinara o escritor franco-argelino Albert Camus às vésperas da Segunda Guerra Mundial, era preciso se manter lúcido e perseverante, recorrendo à ironia, quando possível, para denunciar a tentação autoritária que se espalhava e prenunciava o que viria em 2023, a tentativa de golpe de Estado para manter no poder o derrotado nas urnas Jair Bolsonaro, o presidente da República que ria e debochava dos que sofriam com a Covid-19. O mais importante era conseguir dizer não, recusar o inaceitável, opor-se ao horror político. Uma válvula de escape foi o Facebook. Num espaço intitulado "Face a Face", um cara a cara virtual e uma relação Facebook a Facebook, textos incômodos, inconvenientes, impertinentes, impublicáveis, incontidos, inconformados, foram alojados nesse espaço alternativo pelo autor desta obra, jornalista hoje com 40 anos de carreira, os últimos 25 dedicados a colunas de opinião e à análise da vida política brasileira. Alcançado pelo coronavírus duas vezes, em março/abril de 2020 e em novembro de 2022, com duas hospitalizações, Juremir Machado da Silva contabilizaria também duas demissões, da Rádio Guaíba, em agosto de 2020, e do Correio do Povo, em janeiro de 2022. Pouco mais e, como se brinca, pediria música no Fantástico. Foram anos de embate com Jair Bolsonaro e seus adeptos. É comum que se pague caro por perceber muito cedo o que depois será tarde para lamentar. Os textos deste livro mostram que desde o começo o bolsonarismo sinalizou claramente o que era, seria e como se comportaria: uma doutrina política ultraconservadora, extremista, reacionária, anti-iluminista, nostálgica da ditadura militar implantada no Brasil em 1964. Sem vinculação partidária e convencido de que jornalismo e militância são coisas muito diferentes, o autor atuou movido por um princípio incontornável: diante das ameaças à democracia é preciso se posicionar. A independência é o padrão-ouro do jornalismo. Independência significa estar sempre pronto para criticar/elogiar uns e outros. Bolsonaro e o bolsonarismo não deixavam escolhas: era preciso se manifestar contra os seus ataques cotidianos aos valores democráticos, ainda que o preço final fosse a exclusão, o ostracismo, o silenciamento. A missão foi cumprida. Restam as marcas.
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