Em "Manuscrito de um sacristão" um ex-seminarista, afastado do altar por paixões terrenas, assume a voz de narrador e revela com ironia e sutileza os bastidores da vida religiosa. Sua condição de quem viveu de perto o ambiente do seminário, mas não seguiu a vida clerical, dá à narrativa um tom confessional, cheio de observações que mesclam experiência pessoal e crítica velada. É desse ponto de vista que ele apresenta a história do padre Teófilo e de Eulália. O sacerdote, marcado pela disciplina e pelo dever da fé, vê-se diante da jovem que desperta sentimentos inesperados e contraditórios. A convivência entre eles expõe a delicada fronteira entre vocação religiosa e desejo humano, colocando em cena conflitos que raramente encontram espaço de expressão dentro do ambiente eclesiástico. Ao mesmo tempo, o sacristão-narrador surge como personagem de relevo, pois suas próprias memórias e paixões abandonadas se refletem na forma como observa Teófilo e Eulália. Assim, o conto constrói não apenas uma trama de afeto e renúncia, mas também uma reflexão indireta sobre a fragilidade das instituições diante das inquietações da alma, mantendo a tensão entre fé, impulso e sentimento até as últimas linhas.
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