Em "O lapso", Machado de Assis apresenta o Dr. Jeremias Halma, médico holandês especializado em tratar doenças da alma, acostumado a ouvir desabafos e a observar as pequenas fraquezas humanas que chegam ao seu consultório. Entre os muitos casos que recebe, surge o de um paciente que sofre de um vício muito particular, o hábito persistente de esquecer o pagamento de seus credores. O homem relata esse comportamento como se fosse uma fatalidade pessoal, algo que não consegue evitar, apesar das consequências que provoca. Halma examina o caso com atenção e aplica um remédio destinado a corrigir essa tendência repetida. A melhora se mostra imediata, e o paciente deixa o consultório com a promessa de mudar seus hábitos. Encerrada a consulta, Halma se vê diante de uma situação incômoda. Embora o paciente tenha sido curado do esquecimento que o acompanhava, o médico percebe que ele próprio não encontra forças para cobrar o pagamento que lhe é devido. A visita termina, e o homem parte sem lhe entregar a quantia combinada. Nos dias seguintes, Halma recorda o episódio, conversa sobre ele e tenta justificar a própria hesitação, como se buscasse compreender por que a firmeza que exige dos outros não se aplica ao seu próprio caso. A narrativa acompanha esses gestos, mostrando como o médico lida com o contraste entre a cura que oferece aos demais e a dificuldade de reivindicar sua própria recompensa, revelando a contradição discreta que se instala entre seu método e seu comportamento.
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