No limiar do real, desenha-se um pesadelo de terror cósmico e suspense psicológico: o oceano deixa de devolver cadáveres e começa a cuspir olhos. Elsa Kriel, uma mulher atormentada pela sua própria ligação com o mar implacável, testemunha o momento em que o faroleiro, o tio Frik, desenterra da areia um olho brilhante e de um cobre perturbador: o olho da sua mulher, desaparecida no abismo há muito tempo. Mas esse olho conserva uma consciência sobrenatural, e não olha para o seu marido; olha através dele, cravando a sua pupila implacável em Elsa, a verdadeira destinatária da sua atenção.
Assim começa uma descida à loucura e uma exploração psicológica onde a realidade desmorona. A entidade abissal do olho possui uma vontade própria, reaparecendo uma e outra vez, húmida e observadora. Fragmentos de memórias alheias, de uma agonia por afogamento que não lhe pertence, invadem a psique de Elsa, enquanto pequenas pegadas de pés descalços emergem da espuma apenas para se desvanecerem à soleira da sua porta. Os habitantes da vila começam a sua mutação silenciosa; os seus olhares adotam um brilho antinatural e metálico, e uma paciência sinistra apodera-se deles. Todos esperam, convertidos em parte de um mistério sobrenatural que transcende o conhecido.
Esta obra não é apenas um conto de fantasmas; é uma fenda na realidade, uma infeção narrativa que contamina a perceção. Um romance de suspense e ficção literária que se ergue como uma obra-prima do horror contemporâneo, concebido para questionar os limites da sanidade e absorver por completo o leitor na sua atmosfera opressiva. Aceita o desafio de mergulhar nesta imersão profunda?
"O mar já não cuspia cadáveres. Cuspia olhos.
Jaziam na praia como pérolas molhadas, brilhando no crepúsculo. Elsa Kriel estava de pé com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco. O seu pai, um homem que navegara o mar durante cinquenta anos, dizia que o oceano tinha memória.
Um grito cortou o estrondo das ondas. Não um grito de susto. Um de reconhecimento.
Elsa virou-se. Tio Frik, o velho faroleiro cuja mente ia e vinha como a maré, estava ajoelhado na areia húmida. Nas suas mãos em concha, como uma oferenda, jazia um olho. A íris era da cor do cobre, salpicada de ouro.
"Annette", sussurrou ele. A sua mulher. Perdida no mar há quarenta anos. O seu corpo nunca foi encontrado.
Elsa aproximou-se. O olho nas mãos do Tio Frik não olhava para ele. Olhava para ela. A pupila, negra, estreitou-se até à cabeça de um alfinete. Elsa sentiu-o focar. No seu rosto."
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