O leitor contemporâneo poderá reconhecer em "Os Mistérios do Asfondelo" todos os temas do género e as técnicas do romance-folhetim: amores contrariados porque os amantes pertencem a duas famílias inimigas, os Coculins e os Mascarenhas, a condizer com as novelas sentimentais; sósias perfeitas o que irá permitir uma maternidade de substituição entre as duas; peripécias mirabolantes; coincidências fatais; dissimulação (Ema não é uma enjeitada mas uma fidalga cuja identidade é enfim revelada no decorrer do enredo); sonhos premonitórios; amores à primeira vista; personagens caricaturais e grotescos, inclusive um padre devasso, a lembrar nas falas e atitudes quer a literatura satírica e libertina quer o romantismo gótico inglês.
"Os Mistérios do Asfondelo", tal como os outros romances de Arsénio de Chatenay, foi amplamente lido na sua época, mas logo votado a uma rasura crítica e à situação de "esgoto" pela imprensa contemporânea. Algum tempo depois da sua publicação, a janela que se abrira para a literatura licenciosa em Portugal, com a abolição do Tribunal do Santo Ofício, em 1821, fechar-se-ia durante a longa noite do Estado Novo. É por isso que nos parece urgente rever e reler a história da literatura erótica portuguesa, ou simplesmente escrevê-la, para tirar do olvido obras e autores que, como Chatenay, foram "queer avant la lettre".
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