Trevas contadas reúne contos elaborados a partir de pessoas e fatos reais. A realidade do que está sendo contado tem em comum a memória do autor e um mesmo universo. Não se trata de ser regionalista, mas de a criação ficcional ter a realidade próxima como problema. A vida comum contém as intrigas universais, sejam observadas no amigo de infância que teve a sua limitada por uma promessa, na tia pressionada a aceitar uma união, na ausência de uma mãe que precisa trabalhar e que torna a sua feminilidade uma interdição, na crueldade de um pai dado a um vício criminoso, ou mesmo no relato por um antigo aluno da decisão moral entre prolongar a vida do avô com dor ou aceitar sua morte como alívio, enquanto que a outro não se deu opção diante do trabalho infantil que mutila. A que limites pode chegar em uma mãe exaurida pela violência a culpa diante do filho morto? O tema trágico do primeiro conto é resultante do convívio com um casal, a cuja trajetória se juntou um fato noticiado. A memória carrega a escuridão de pessoas das quais o discurso é o principal desafio estético. Representar vozes, cujas narrativas são sintomas de identidades, também se soma às tentativas de mostrar o tempo sem distanciamento. Passado ilusório, a memória expõe o atual. As trevas escurecem existências para as quais a arte pode dizer: eu sei, vocês nem vão saber.
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